Por medo de Covid-19, coveiro e moradores se negam a enterrar idosa em Canudos; agentes funerários fazem sepultamento

Dois agentes funerários fizeram o enterro de uma idosa de 81 anos vítima da Covid-19, na última sexta-feira (5), em um cemitério localizado no distrito de Rosário, que pertence ao município de Canudos, no norte da Bahia. A mulher morreu em Salvador e teve o corpo levado para onde morava no interior do estado. Contudo, ao chegar ao local, os agentes não encontraram pessoas que estivessem dispostas a realizar o sepultamento e decidiram realizar o enterro.

Proprietário da funerária Pax Monte Sinai, José Silva foi um dos agentes funerários responsáveis pelo enterro da idosa. Ele explica que a mulher morreu na sexta-feira e que a filha dela ficou em Salvador, já que também foi diagnosticada com Covid-19 e não pôde acompanhar o retorno do corpo para Rosário.

“Ela morreu 3h. Fomos acionados por volta das 10h30 na cidade de Euclides da Cunha e fomos até Salvador. Chegamos lá por volta das 18h, fizemos procedimentos de reconhecimento de corpo e voltamos. Quando chegamos na comunidade de Rosário, era meia-noite”, lembra José.

“Combinado de chegar na comunidade e passaria pelo cemitério. As pessoas estariam esperando atendendo toda as normas de segurança. Quando a gente chegou lá, não encontrou ninguém. Cavaram a cova e deixaram lá. No momento não encontrou ninguém, cemitério sem iluminação”, continua o agente funerário.

Ao chegar ao distrito, José Silva lembra que falou com um representante da localidade que disse que a comunidade não queria se envolver no sepultamento por medo de contaminação. O coveiro também demonstrou receio e não estava paramentado para este tipo de situação.

“Ele disse que não tinha ninguém para acompanhar por medo. O pessoal do interior, devido aos acontecidos, acredito que por medo. E o pessoal que trabalha de coveiro disse que foi devido ao medo e não estar preparado”, afirma o agente funerário.

José, então, tomou a iniciativa e decidiu fazer o enterro, em um local com baixa iluminação, ao lado do seu colega de trabalho. O profissional conta que nunca viveu uma situação como essa na carreira.


“Situação muito inusitada. Tem 15 anos que eu trabalho como agente funerário. Depois de rodar 800 quilômetros, pegar corpo no Hospital Roberto Santos e não encontrar ninguém, nem para mostrar onde era o cemitério. Quando a gente chegou no cemitério, com bastante dificuldade pela estrada, apenas eu e meu companheiro de trabalho Ricardo”.

“Nós tomamos a iniciativa de fazer o enterro. A gente se sensibilizou com a situação. É um momento de se unir e ajudar o próximo. A gente sensibilizou com essa situação”, continua José. O município também informou que soube da morte da mulher na última sexta-feira e que não houve tempo para deslocar equipe para acompanhar o sepultamento. (G1/Bahia)

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