Em Feira de Santana, mulheres vão às ruas na 2ª Caminhada em Combate à violência contra a Mulher
A 2ª Caminhada em Combate à violência contra a Mulher, realizada pela Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher de Feira de Santana (Deam-Feira) na manhã deste domingo (24), mobilizou centenas de pessoas nas ruas para cobrar o fim da violência de gênero. Saindo da unidade, localizada na avenida Maria Quitéria, elas marcharam em direção ao Shopping Boulevard para reafirmar o respeito e o direito à vida que todas as mulheres devem ter. Apesar do alto índice de feminicídios, elas exalaram confiança, força, garra e muita resistência para continuar lutando nessa sociedade patriarcal e machista.
Não teve sol forte que impedisse o grande número de pessoas. Organizações, empresas, instituições, políticos, entre mulheres, homens, crianças, jovens, idosas, que prestigiaram a ação. Grupos também se organizaram cobrar justiça por feminicídios que ocorrem na região.
Ao Acorda Cidade, a delegada da Deam, Clécia Vasconcelos, falou sobre a dimensão da caminhada que, além de trabalhar a educação, aproximando a discussão da sociedade, promove a arrecadação de alimentos para ajudar mulheres em situação de violência em Feira de Santana.
“Primeiro, lançar essa conscientização porque esse povo precisa estar na rua dizendo não à violência contra a mulher. Segundo, é a partir da troca da camisa que acolhemos alimentos, fazemos cestas básicas e na delegacia, quando chega uma mulher em situação de vulnerabilidade, passando necessidades, nós entregamos essa cesta básica”.
Durante todo o ano, a Deam realiza o Varal Solidário, onde as pessoas doam roupas também para as mulheres que chegam precisando de apoio na delegacia. Muitas delas chegam à unidade somente com a roupa do corpo e temem em retornar para casa. Por isso, o acolhimento tem sido fundamental neste momento.
Em uma cidade com alto índice de violência contra a mulher, a delegada ressalta a importância da rede de proteção criada que tenta minimizar e prevenir o avanço de mais estatísticas negativas. Entre agressões e ameaças, muitas delas já perderam a vida, como o caso de Geisa de Assunção Santiago, de 42, morta pelo esposo na última quinta-feira (21).
“Temos uma rede de proteção à mulher muito atuante. Todos os itens que compõem a rede e aqui na Deam, a gente já tenta prestar a ela um atendimento psicológico, assistencial”. Nesta caminhada, Clécia salientou a participação da sociedade civil e das instituições como agentes essenciais para promover mudanças positivas.
“Uma comissão foi criada, chamamos a OAB, as faculdades, os movimentos sociais, as pessoas de boa vontade e o resultado é esse. Os participantes contribuíram com frutas, energético, água, a produção das camisas, o trio elétrico, as cantoras, as divulgações de todas as formas, é um movimento de toda a sociedade e eu aproveito para agradecer aos comerciantes, aos empresários, aos políticos que chegaram juntos nessa causa”, destacou Clécia Vasconcelos.
Em sua maioria mulheres, participaram, da sociedade civil, donas de casas, vendedoras, comerciantes, empresárias, jornalistas, enfermeiras, agentes de saúde, enfim uma pluralidade delas tomaram as ruas nesta manhã.
A jornalista Madalena Braga vestiu a camisa e também fez questão de acompanhar a caminhada. Ela destacou a importância de homens e mulheres se unirem nessa luta, e mencionou a campanha “Sou Mulher Quero Respeito” da TV Subaé que expõe o número de casos de violência contra a mulher.
“Hoje é um dia especial, um dia de conscientização, para que a gente possa proteger essas mulheres que são vítimas dos seus companheiros, que são vítimas dos seus maridos. É uma causa justíssima, é uma coisa que deve incomodar a sociedade, e que a gente precisa procurar providências, fazer a nossa parte, denunciar esse crime, ajudar essas mulheres vulneráveis que precisam da ajuda de outras mulheres, e de homens também”, afirmou.
Na manhã deste domingo, três suspeitos de assassinar a vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco, foram presos. Foi justamente no mês da mulher que ela também perdeu a vida. No dia 14 de março de 2018, a vereadora foi brutalmente assassinada com diversos disparos de arma de fogo, que também mataram seu motorista, Anderson Gomes. Há seis anos, a sociedade aguarda as investigações, como complementa a jornalista.
“Parece que é uma caminhada que está chegando ao fim, uma investigação que não deve parar, deve chegar até esse crime de ter tirado de circulação uma mulher. Uma mulher ativista, uma mulher lutadora, uma mulher que defendia os direitos humanos. Então a gente está na expectativa e na espera de que isso seja resolvido”, disse Madalena ao Acorda Cidade.
A diretora da Fundação Hospitalar, Gilbert Lucas, destacou a importância do município realizar ações voltadas para o combate a violência contra a mulher, principalmente no mês do Dia Internacional da Mulher (8), além de trazer uma abordagem integrada com diversos setores da sociedade.
“O município vem fazendo várias ações e a gente abraça com a Deam, com outros órgãos para o combate à violência contra a mulher. A gente faz parte de uma instituição onde a gente atende diariamente várias mulheres, e com certeza é uma rede. A importância é isso, não é individual. O município com o estado, a gente precisa trabalhar como uma rede de proteção”.
Além das delegacias, muitas mulheres que sofreram violência buscam o primeiro atendimento nos hospitais para se cuidar. Dentro dessas unidades, o papel de escuta e de acolhimento são fundamentais para dar coragem e força para que elas denunciem e rompam esse ciclo.
“Essa mulher precisa de uma proteção. Não só as mulheres vítimas de violência, até as mulheres vítimas de violência, gestantes, mas também na parte ambulatorial, de assistência. Hoje, no CMPC, a gente tem um consultório específico para o acompanhamento do Pós dessa mulher vítima de violência, encaminhada pela Secretaria da Mulher. Então, a gente precisa dar uma proteção, a gente precisa dar um acompanhamento. Hoje, a gente tem uma rede de proteção também na instituição, multiprofissional, com psicólogo, assistente social, e é muito importante que todos esses órgãos trabalhem de mãos dadas”, afirmou Gilbert.
É a integração da Defensoria Pública, da Ronda Maria da Penha, dos conselhos, dos movimentos sociais, da Prefeitura e suas secretárias, além da sociedade civil que não deve ficar de fora, que o combate ostensivo pelo fim da violência contra a mulher pode acabar, como destacou a Secretária de Políticas para as Mulheres, Gerusa Sampaio.
As entidades públicas oferecem apoio psicossocial, visando não apenas o bem-estar emocional e social, mas também capacitando as mulheres para que possam se libertar da dependência financeira. Esse suporte inclui capacitações para promover a autonomia e o empoderamento. Além disso, na Secretaria da Mulher há apoio jurídico, especialmente para aquelas que desejam se separar, mas enfrentam dificuldades financeiras. O serviço é gratuito e promovido pela Prefeitura de Feira de Santana.
“A gente precisa encorajar essa mulher, empoderar para que ela se sinta acolhida e saiba que não está sozinha, que Feira de Santana tem uma rede de proteção para apoiá-la, para conduzi-la ao melhor caminho, que é o da felicidade, porque muitas vezes ela naturaliza o sofrimento, ela sofre violência psicológica, física e não tem forças. E nós buscamos, com essa segunda caminhada e todo o nosso trabalho, ter esse propósito de encorajar a mulher a quebrar o silêncio”, reforçou Gerusa.
A secretária estadual de Políticas para Mulheres também participou. Elisângela Araújo falou sobre a rede de apoio que tem colaborado com a prevenção e o enfrentamento à violência.
“A gente tem diversos programas hoje em parceria com o sistema de segurança do governo do Estado, como também com a rede, com a defensoria, com a promotoria pública, com toda a rede de parceria de enfrentamento e prevenção das violências, como também temos várias iniciativas de programas na educação, de programas sócio-produtivo para a autonomia financeira dessas mulheres e econômica, porque 46% das mulheres não denunciam os agressores, porque elas não têm autonomia econômica e financeira”.
Elisângela também ressaltou a importância da participação do estado na caminhada e no debate geral na sociedade. Ela ainda comentou sobre a prisão dos suspeitos do assassinato de Marielle Franco, enfatizando que, embora seja um avanço, é crucial agir mais rapidamente diante de casos de violência e feminicídio.
“Esses são espaços importantíssimos para a gente dialogar com toda a sociedade, para a gente furar a bolha e mostrar para as pessoas que as relações de gênero, as violências contra as mulheres na sociedade são uma responsabilidade de todas as pessoas, de toda a sociedade. E a gente precisa mudar esse quadro de tantas violências”.
A caminhada teve o apoio ainda da Polícia Militar, da Superintendência Municipal de Trânsito, além1ª de diversas delegacias da 1ª Coordenadoria Regional da Polícia Civil do Interior de Feira de Santana.
Fonte: Acorda Cidade
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