Feminicídio na Bahia cresce e o perfil das vítimas e agressores costuma ser o mesmo, dizem especialistas

Ruana Karina Santos, mãe de dois garotos, era natural de Marabá, no Pará, e morava em Salvador havia 7 anos ao lado do marido. Na noite do último dia 26, ela foi morta a golpes de faca pelo companheiro, que teria cometido o crime na residência do casal, no bairro de Sete de Abril, na frente dos pequenos.

Ruana ilustra as estatísticas do feminicídio na Bahia. No estado, embora haja campanhas de conscientização e o fortalecimento da rede de apoio às vítimas, o número de casos ainda cresce.

De acordo com um levantamento realizado pela Rede de Observatórios da Segurança, o número de feminicídios no estado aumentou em 58% entre 2022 e 2023. Em 2022, foram registrados 200 casos, porém, em 2023, o número saltou para 316 mulheres assassinadas por razões de gênero.

“E o perfil dessas vítimas se parecem muito, geralmente mulheres que dependem financeiramente dos maridos e que, muitas das vezes, não contam com uma rede de apoio. Mesmo apanhando e sofrendo todo tipo de violência dentro de casa, elas optam por continuar pelos filhos ou por baixa autoestima e dependência emocional, por exemplo”, comenta a Sara Araújo, pesquisadora e advogada especializada em Direito das Mulheres e Desigualdade de Gênero.

Ruana não trabalhava formalmente, realizava “bicos” e dependia financeiramente do marido que, de acordo com pessoas próximas ao casal, não permitia que a esposa tivesse acesso ao mercado de trabalho.

“Na maioria dos casos, as mulheres são assassinadas a golpes de faca, o que torna o crime ainda mais doloroso, pois as vítimas não morrem imediatamente, mas agonizam. Os agressores são geralmente ex-companheiros ou parceiros atuais que se consideram donos da mulher, vendo-as como propriedade”, pontua Antônia Cardoso, socióloga e mestre em Direitos Humanos das Mulheres e Políticas Públicas.

Nesta semana, a Secretaria de Segurança Pública do Estado da Bahia (SSP-BA) realizou uma coletiva de imprensa para apresentar os números de violência do primeiro bimestre deste ano no estado.

Entre os índices apresentados estava o feminicídio. Conforme a pasta, nos dois primeiros meses deste ano foram registrados 10 feminicídios, enquanto no primeiro bimestre do ano anterior, foram 13, uma redução de apenas 3%.

“Tivemos a redução nos dois primeiros meses e por que essa sensação de que os crimes continuam acontecendo? Porque eles causam um impacto muito grande. O feminicídio, ao contrário do homicídio simples, tem uma repercussão na família e amigos, e isso impacta”, diz a delegada geral da Polícia Civil Heloísa Brito.

“A mulher normalmente é morta pela pessoa que ela ama em um ambiente que, muitas vezes, ela se sente segura. Em alguns casos, [os crimes] acontecem na frente dos familiares”, completa.

Vítimas

  • Márcia Santos morta a golpes de faca em janeiro na cidade de Porto Seguro
  • Antônia Monik morta a golpes de faca em janeiro em Vera Cruz
  • Eunice Maria Barbosa era baiana e foi morta a golpes de faca pelo marido, também da Bahia, em feveireiro deste ano na cidade de São Paulo.
  • Andrea dos Santos morta a golpes de faca em janeiro na cidade de São Francisco do Conde

A Bahia possui 15 Delegacias Especializadas no Atendimento à Mulher (Deam). Essas unidades estão distribuídas por todo o território baiano e têm a responsabilidade de desenvolver ações para proteger as vítimas de possíveis agressões.

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